Sexta, 13 de agosto de 2011
Se antes custavam 70% mais que convencionais, hoje diferença é de 30%. Faturamento do setor registra crescimento de 40% ao ano.
Se antes custavam 70% mais que convencionais, hoje diferença é de 30%. Faturamento do setor registra crescimento de 40% ao ano.
Antes ocupando pequenos espaços nas gôndolas dos supermercados e sendo comprados apenas por quem estivesse disposto a desembolsar mais pela sua qualidade, os alimentos orgânicos começam a atrair a atenção de mais consumidores, permitindo que o faturamento do setor registrasse aumento de 40% no último ano. Com o aumento de escala, a diferença de preço entre os produtos orgânicos e os convencionais, que em 2006 era de 70%, recuou para 30% neste ano, segundo a Associação Brasileira de Orgânicos (BrasilBio).
Sítio do Moinho, localizado em Itaipava, na Serra de Petrópolis (RJ) (Foto: Charlotte Valade/Divulgação) |
"Essa nova tendência de consumo começou há uns quatro, cinco anos, mas está se intensificando. A tecnologia do orgânico já está dominada. No início, havia apenas produtores que levavam o nome de ‘melhoristas’. Eles trabalhavam na base da tentativa e erro. Com a incorporação dessa tecnologia, a produção aumenta e, consequentemente, o preço cai”, disse Mauro de Rezende Lopes, pesquisados do Centro de Estudos Agrícolas da Fundação Getulio Vargas (FGV). “Ainda não sabemos quando, mas os preços deverão chegar a um equilíbrio.” Hoje, um em cada três supermercados no país vende produtos orgânicos.
Segundo estimativa divulgada do projeto Organics Brasil, ligado à Agência Brasileira de Promoção de Exportações (Apex), atualmente o Brasil tem 332 mil hectares de produção agropastoril orgânica, utilizadas por cerca de 8 mil produtores que, juntos, são responsáveis por um volume de 5,2 milhões toneladas – a maior parte vindo das regiões Norte e Nordeste. Apesar de os últimos dados oficiais serem os do Censo Agropecuário do IBGE de 2006, o presidente da BrasilBio, José Alexandre Ribeiro, garante que a produção está aumentando.
Verduras orgânicas (Foto: Cristina Baran/Divulgação) |
“As pessoas estão mais preocupadas com a saúde, e temos percebido isso de um ano para cá. O número de produtores que se enquadram nas regras de certificação que começaram a valer em janeiro aumenta. Os agricultores começam a perceber todas as vantagens do cultivo orgânico, como preservação da saúde dos trabalhadores e a redução de alguns dos custos de produção”, disse. Porém, segundo Ribeiro, essa difusão da agricultura orgânica ainda não é suficiente para atender a demanda.
Aliada aos custos de produção, que ainda são relativamente altos, a oferta reduzida ainda impede que os preços praticados hoje façam os consumidores optarem pelos produtos convencionais. O presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Sussumu Honda, cita ainda falhas de distribuição como um dos entraves que dificultam a fidelização dos consumidores. “Mesmo assim, a procura é de fato grande, mas mais concentrada nas classes A e B. Para chegar à metade da população, que é a classe C, é preciso haver um aumento ainda maior. Os preços não estão tão mais altos (que os convencionais) como era há alguns anos, mas ainda precisariam ficar mais baixos.”
Segundo pesquisa da consultoria Nielsen, a pedido da associação dos supermercadistas, 27% das redes pesquisadas em 2010 informaram que comercializam produtos orgânicos, que correspondem a cerca de 0,5% do seu faturamento.
Atento ao aumento a esse mercado de alimentação, Dick Thompson, dono do Sítio do Moinho, em Itaipava, região serrana do Rio de Janeiro, deu um passo além e abriu a primeira panificadora de orgânicos do país, a Molino D’Oro, conforme contou. “Quando abrimos a panificadora, trouxemos tudo de fora: máquinas, consultoria e até um padeiro italiano. Mas nossa história com os orgânicos começou há muito tempo. “Em 1989, tomamos a decisão de optar pelo conceito de agricultura orgânica, para alimentar minhas filhas de forma saudável. Começamos em 1991 como hobby e depois a coisa começamos para valer.”
Produtos da Molino D'Oro, do Rio de Janeiro
(Foto: Charlotte Valade/Divulgação) |
Alguns anos depois, o Sítio do Moinho passou a fornecer seus produtos para supermercados da capital. “Quando começamos a entregar, em 1997, entregávamos 600 unidades de legumes e verduras, em alguns dias da semana. Em 1999, já estávamos entregando seis vezes por semana, passando de 600 para 25.000 unidades”, contou Thompson. Hoje, a empresa distribui verduras, legumes, ervas da horta irrigada com água pura e outros produtos – todos orgânicos – como laticínios, cereais, sucos e conservas.
Made in Brazil
Apesar de o mercado interno estar aquecido, a exportação de produtos orgânicos está na pauta de muitos produtores, de pequeno, médio e grande porte. De acordo com a Organics Brasil, em 2010, o faturamento com a exportação desse tipo de produto, feita por 72 empresas, somou US$ 108,2 milhões. “Desde 2005, quando começamos a desenvolver nosso trabalho, esses números só vem subindo,” disse o coordenador-executivo do projeto, Ming Liu. Há seis anos, havia apenas 12 empresas participantes que, juntas, venderam para fora US$ 9,5 milhões.
ANO EMPRESAS PARTICIPANTES VOLUME DE EXPORTAÇÃO
2005 12 US$ 9,5 milhões
2006 33 US$ 15 milhões
2007 42 US$ 21 milhões
2008 64 US$ 58 milhões
2009 74 US$ 44,3 milhões
2010 72 US$ 108,2 milhões
Fonte: Organics Brasil
Os principais mercados consumidores dos produtos brasileiros, segundo Liu, são Alemanha, Estados Unidos e Reino Unido, que importam, principalmente, açúcar, mel, castanhas, frutas (em polpa e em suco), alimentos processados e a granel, além de óleos para cosméticos.
Dependentes do dólar, essas exportadoras foram afetadas pela desvalorização da moeda frente o real, fazendo com o que seus produtos ficassem menos competitivos. No entanto, conforme afirmou o coordernador-executivo, a demanda continua alta e a oferta pequena, não prejudicando o volume de exportações. “Há sempre um remanejamento de preços. Se o preço de um dos produtos, como o açúcar, cai muito, os preços de outros, que não são commodities, não caem e contribuem para um equilíbrio.”
Certificação
Em janeiro deste ano, entrou em vigor a nova legislação de agricultura orgânica no Brasil e teve início a implementação do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica e do Controle Social na Venda Direta Sem Certificação, do Ministério da Agricultura e Pecuária.
“Por isso, estão sendo credenciadas pelo ministério Organismos de Avaliação da Conformidade e cadastradas Organizações de Controle Social. Em outras palavras, certificadoras e grupos de agricultores familiares que atuam na venda direta de produtos orgânicos. Esses organismos e os órgãos responsáveis pelo cadastramento dos grupos em venda direta alimentarão um sistema de informação sobre a agricultura orgânica no Brasil”, disse o chefe da Divisão de Desenvolvimento Agroecologia do ministério, Jorge Ricardo de Almeida Gonçalves.
Segundo Gonçalves, esse sistema de informação está em fase de implantação e deverá ser finalizado no segundo semestre deste ano.
"Desenvolvemos um trabalho que busca atender ao setor diante das principais dificuldades enfrentadas pelos produtores, como acesso ao mercado, logística precária, estrutura de preços. Para isso, precisamos de informações. Os produtos orgânicos precisam de divulgação, e os dados do ministério da Agricultura são indispensáveis para isso. Estamos esperando esses dados”, disse Sylvia Wachsner, coordenadora do projeto OrganicsNet, da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA).
Fonte: G1, em São Paulo
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