Por Márcia Pimenta*
E o Rio de Janeiro sucumbiu a mais uma tempestade! E mais uma vez a natureza, pobre coitada, é a culpada! Moramos em um país tropical, e o conhecimento sobre as chuvas no fim do verão não está restrito ao círculo dos técnicos da meteorologia, até o poeta cantou: “são as águas de março fechando o verão…”. É preciso desmacarar a falsa representação da realidade que serve a determinados interesses!
Não é possível que em um mundo repleto de ameaças ambientais que desafiam a tecnologia e a ciência, como a extinção de várias espécies, o aquecimento global ou o buraco na camada de ozônio, ainda não tenhamos resolvido o problema do saneamento básico em suas três dimensões; a coleta e tratamento dos esgotos sanitários a gestão das águas pluviais e a gestão dos resíduos sólidos.
Antes da chuva cair muito trabalho de casa estava por fazer. Enquanto os políticos desperdiçam verbas com propagandas pra se autopromover o Rio, cidade maravilhosa, vai ficando cada dia mais decadente. No domingo passado o jornalista Elio Gaspari denunciou: “O prefeito Eduardo Paes pediu R$ 270 milhões ao governo federal para acabar com o alagamento da Praça da Bandeira. Faria melhor destinando à prevenção de enchentes os R$ 120 milhões que separou para gastar em publicidade. Depois, pediria ao governador Sérgio Cabral que lhe desse R$ 150 milhões do ervanário de R$ 180 milhões que pretende encharcar em propaganda. Secaria a praça e sobrariam R$ 30 milhões”. O dinheiro existe, a questão é a prioridade na destinação das verbas. Acidentes pressupõem que a ocorrência seja inevitável ou imprevisível e os problemas estruturais da cidade só viram o foco depois das tragédias e aí fica claro como os discursos das autoridades não passam de jogo de linguagem que encobrem a ausência de macroestratégias para tratar estas questões.
Nas encostas onde é proibido construir, as moradias se equilibram, nas várzeas onde a cheia é certa, os construções desafiam a natureza e enquanto isso tem muito político querendo flexibilizar a legislação ambiental que se observada e cumprida impediria que muitas desgraças acontecessem. Mas a tentação em ceder aos poderosos da construção civil faz com que a miopia de certos governantes enxerguem nas áreas verdes e não construídas um oásis para encher o bolso de dinheiro, desprezando a certeza de que quanto mais pavimentamos as cidades, mais contribuímos para uma drenagem deficiente aumentando o risco de enchentes.
Por outro lado, a sociedade está cada vez mais apática e delega todas as suas responsabilidades. Não é apenas dos políticos a responsabilidade de cuidar da cidade. A cidade mais limpa é aquela que mais se limpa ou aquela em que os cidadãos a sujam menos? Com a discussão sobre a tragédia das chuvas um velho tema veio à tona: o lixo nosso de cada dia. Ele vai parar em todos os lugares, menos no lugar certo que é o aterro sanitário. Ele vai parar nos rios, nas calçadas, nos lixões, no mar e na areia da praia. Aqui são três problemas: o banhista que larga o lixo na areia, os fabricantes de sucos e refrigerantes, que pra melhorar sua logísitica abandonaram as embalagens retornáveis e não deram uma solução para as embalagens plásticas os espécimes mais avistados faça sol ou chuva e ainda os panfletos publicitários distribuídos.
São aqueles papéis recheados de tintas que muitos nem lêem e que acabam se somando ao lixo abandonado no fim de um dia de praia. Culpa de quem? Dos banhistas? Dos panfleteiros? Das agências? Impossível não responabilizar os patrocinadores….responsabilidade solidária. No final ninguém sabe quem distribuiu ou criou a campanha, mas o patrocinador, aquele que gasta milhões promovendo sua marca, acaba “ficando mal na foto” associando sua marca ao lixo que emporcalha as praias. Por que não usar faixas pra fazer a propaganda? Por que não investir em campanhas de educação para demostrar o perigo que o lixo representa para a cidade e seus cidadãos? E é para que eles mudem sua estratégia de marketing respeitando a natureza e o espaço público que eu faço este texto e pergunto. Gostou da foto? Tanta verba gasta pra morrer na praia?
*Jornalista com Especialização em Gestão Ambiental, é colaboradora e articulista do EcoDebate.
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