Oswaldo Molles, criador de Adoniran
O mestre Osvaldinho da Cuíca não titubeia em afirmar: Oswaldo Molles foi quem criou Adoniran Barbosa. A criação, entenda-se, não foi como a de um inventor pirado montando as partes do seu Frankenstein, mas como a de um pai zeloso, que observa as potencialidades do filho e tenta lhe dar o que tem de melhor em si. Molles teve esse papel na carreira de Adoniran, que nunca se negou a dar-lhe os devidos méritos.
Em 1941, o jovem prodígio Oswaldo Molles foi trabalhar na Rádio Record, onde conheceu Adoniran. Era um sujeito de criatividade e produtividade espantosas, concebendo e produzindo diversos programas por dia, e sempre com qualidade. Observador atento, o radialista logo percebeu em Adoniran um diamante bruto e se pôs a lapidá-lo pacientemente.
Certa vez, em depoimento a Francisco Rocha, o já falecido colega Raul Duarte descreveu essa tarefa laboriosa: “O Molles ficava horas com ele procurando ver cada possibilidade que ele encontrava no registro de voz do Adoniran. Molles dizia assim: - Vá falando aí, que eu quero ver você fazendo, como é que você inflexiona isso aqui, assim e tal. Aí dava a idéia e o Molles criava outro tipo”, relatou.
A incrível quantidade de personagens que Molles criou inspirado em anônimos das ruas de São Paulo foi fundamental para que Adoniran desenvolvesse a própria persona que encarnou. Havia por trás desses tipos, porém, uma preocupação maior de Molles que o pupilo soube compreender muito bem: além do humor, o alvo era a formação e a inclusão social das camadas mais pobres da população.
Assim, não bastava que um tipo fosse popular, era preciso tivesse um conteúdo humano profundo e construtivo. Essa, aliás, foi a tônica das marcantes passagens do radialista por duas das mais importantes emissoras da época: a Rádio Record e a Rádio Bandeirantes.
Se Molles deu a Adoniran uma identidade artística, este soube retribuir à altura. Além de dividir algumas ótimas parcerias musicais, como “Pafunça”, “Tiro ao Álvaro”, “Mulher, Patrão e Cachaça” e “O Casamento do Moacir”, deu-lhe o maior êxito de sua carreira no rádio: o programa “História das Malocas”, criado por Molles em 1956 a partir de “Saudosa Maloca”, de Adoniran, que era o seu maior protagonista.
O programa teve grande audiência por todo o tempo em que ficou no ar, até 1967, quando o radialista morreu. Adoniran, com seu estilo de repetir as frases que julgava importantes, resumiu a falta numa entrevista: “Esse cara, não existe outro igual. Nunca mais vai aparecer outro igual ao Oswaldo Molles”.
Fonte: Portal VoIT
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